Embora acreditemos na existência dos Anjos, já seja por demonstração racional, já seja por nossa fé nas Sagradas Escrituras, ainda não foi explicado o que é um anjo. O que quer dizer a palavra “anjo”? E o que pode nos dizer esta palavra a respeito da natureza do anjo, do que ele é, e do que ele faz?
É ser necessário tomar em consideração que a palavra “anjo vem, através do latim ângelus, do grego angelos, que nos LXX traduz o hebraico mal’āk; os dois termos significam mensageiro, enviado, indicando apenas a função 1”, como dizia Santo Agostinho:
“‘Anjo’ indica a função, e não a natureza. Perguntas como se chama esta natureza? – Espírito. Perguntas sua função? – Anjo. Desde o ponto de visto do que ele é, é um espírito; desde o ponto de visto do que ele faz, é um anjo 2”.
Ora, os mensageiros de Deus são por excelência os espíritos celestes, embora seu ofício primeiro seja o eterno louvor das três Pessoas divinas, como afirma o Catecismo:
“Com todo o seu ser, os anjos são servos e mensageiros de Deus. Pelo facto de contemplarem «continuamente o rosto do meu Pai que está nos céus» (Mt 18, 10), eles são «os poderosos executores das suas ordens, sempre atentos à sua palavra» (Sl 103, 20) 3”.
Assim sendo, nem todas as vezes que as Escrituras falam em “anjo” ela se refere de fato aos seres que constituem o objeto deste nosso estudo, pois às vezes utiliza a palavra “angelus” num sentido muito mais amplo. Adverte BUJANDA:
“[A Escritura] chama também anjos ao próprio Jesus Cristo, a S. João Batista (…), aos bispos (Ap. XXI; 3, 1), e até às criaturas irracionais, como o faz o Salmista referindo se aos ventos (Salmo, CIII, 4). A razão está em que todos eles são uma espécie de ministros enviados do Senhor, e em hebraico a palavra que significa anjo tem propriamente o sentido de enviado 4”.
Contudo, a utilização de “anjo” neste sentido mais amplo é escassa, e não permite uma generalização tal que permita presumir a inexistência dos puros espíritos. O raciocínio exegético de BUJANDA é muito sucinto e claro:
A Sagrada Escritura fala nos de seres intelectuais (Tb 12,15ss; Lc 1,26ss; Mt 28,5), inferiores a Deus (Cl 1,16; 2Pd 2,4; Jd 1,6) e superiores aos homens (Hb 2,6-7; Mc 13,32); logo, segundo ela, existem os seres que nós denominamos ‘Anjos’ 5”.
Assim, negar a existência de seres tão frequentemente citados pelas Escrituras, e pretender ao mesmo tempo crer na autenticidade da mesma Revelação, torna-se uma contradição impraticável. A Igreja Católica, por sua parte, sempre considerou a existência dos anjos como verdade de fé, como consta no próprio Catecismo:
“A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição 6”.
A afirmação dogmática mais categórica sobre a existência dos anjos, e a mais citada pelos tratadistas e teólogos, é sem dúvida a definição do quarto Concílio de Latrão, no seu Capítulo 1:
“Deus… desde o princípio do tempo criou do nada duas espécies de seres – os espirituais e os corporais, isto é, os anjos e o mundo e depois criou o homem, que sendo constituído de corpo e espírito, como que é comum a ambos os seres 7”.
Poder-se-ia então perguntar por que o Gênesis não menciona explicitamente a criação dos anjos, parecendo omiti-los, embora descreva tão pormenorizadamente a criação de todos os seres. A isto, que pareceria um argumento convincente contra a existência dos anjos, Santo Agostinho retruca que os anjos não foram omitidos no relato da criação, mas que foram designados pela palavra “céu” ou a palavra “luz”. Segundo ele, uma menção mais clara teria exposto os judeus, tão inclinados à idolatria, a adorar os anjos 8.
Todavia, as sentenças da Igreja relativas aos anjos não tem todas o mesmo valor afirmativo. Klee nos dá uma excelente classificação que esquematizamos a seguir 9.
São verdades de fé (não se podem negar sem perder a comunhão com a Igreja):
– Deus tirou seres espirituais (os anjos) do nada, cuja natureza é espiritual
– alguns destes (os demônios), embora tenham sido criados bons, se afastaram de Deus por culpa própria, e têm em relação a Ele uma hostilidade eterna
– demônios têm, por causa do pecado de Adão, um certo domínio sobre os homens
– a missão secundária dos anjos é a proteção dos homens e o zelo pela sua salvação.
São verdades certas:
– Deus destinou os anjos a um fim sobrenatural (a visão beatífica), e lhes deu a graça santificante para atingi-lo
– a missão primeira dos anjos é a glorificação e o serviço de Deus.
Finalmente, são verdades comuns a quase todos os teólogos que os anjos são, por natureza, imortais.
Isto posto, e se formos considerar os 2000 anos da Igreja, e o grande número de autores que tratam sobre os Anjos, rapidamente nos daríamos conta de que seria impossível fazer um estudo englobando a todos. Embora possamos corroborar e completar uns ensinamentos com outros, precisamos escolher uma espinha dorsal. E não podíamos encontrar outra melhor que São Tomas de Aquino. Porque ele? Sua teologia não será muito defasada, ele que viveu há mais de 800 anos atrás? Se você pensa assim, vai levar uma boa surpresa, porque está muito enganado… Mas isto, vamos deixar para o próximo artigo!
Acompanhe aqui o conteúdo da matéria na íntegra, e continue conosco, até a próxima semana… “sob a proteção dos Santos Anjos”!
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NOTAS ————————————————————
1. VAN DEN BORN, A., Dicionário Enciclopédico da Bíblia, p. 74-75.
2. Santo AGOSTINHO, Comentários aos Salmos, Salmo 103,1-15.
3. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 329.
4. BUJANDA, Manual de Teologia Dogmática, Tratado VI, Capítulo II, Artigo 1.
5. BUJANDA, Manual de Teologia Dogmática, Tratado VI, Capítulo II, Artigo 1.
6. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 328.
7. IV CONCÍLIO DE LATRÃO, Capítulo 1, Denzinger, n. 428.
8. Santo AGOSTINHO, apud Catéchisme des Saints Anges, 55.
9. KLEE, Vincent, Les plus beaux textes sur les saints anges.