Porque este tema?

Ao longo da história da humanidade, as misteriosas comunicações que circulam entre nosso mundo e o outro foram temas de inúmeros escritos, originando – não poucas vezes! – até escolas de pensamento. Desde os primeiros tempos da Igreja, as relações entre os vários membros do corpo místico de Cristo, estejam eles no céu ou na terra, foram objeto de considerações constantes que, começando por São Paulo, atingiram um raro grau de beleza e profundidade pela pena de Santo Agostinho.

O materialismo, ao negar tudo o que não é verificável pelos sentidos, criou um vazio no homem.

Outrora tão prezado, este tema sofreu uma injusta e progressiva queda em desuso; foi desprezado por um racionalismo exacerbado que pretendia negar tudo quanto não fosse demonstrável pela mera razão, para ser finalmente hostilizado por um materialismo positivista que pretendia recusar tudo aquilo que não fosse verificável pelos sentidos.

Esoterismo


Este vazio tende, hoje, a ser preenchido erroneamente por formas alternativas de espiritualidade, como o esoterismo.

Hoje, constatamos que a ausência de uma esfera que transcenda o “aqui” e o “agora” criou um vazio que está sendo paulatinamente preenchido por formas alternativas de espiritualidade, as quais constituem um eloqüente atestado de que o ateísmo moderno não abafou a consciência que o homem tem de estar constantemente em contato também com um mundo eterno e imortal que o supera largamente.

O necessário equilíbrio da fé autêntica

Anjos

Conhecer a verdade sobre os anjos nos ajuda a ter o equilíbrio da fé entre a credulidade ingênua e o materialismo obstinado.

Recuperar a verdadeira essência do mundo angélico, e estudar seu sentido bem como as relações que estabelece com homens, é pois de fundamental importância para manter o difícil equilíbrio da fé esclarecida entre a credulidade ingênua e o materialismo obstinado, num mundo onde ambos extremos tendem a se radicalizar.

Com vistas a contribuir com algo neste sentido, quisemos desenvolver nossa pesquisa procurando apresentar as íntimas – e frequentemente insuspeitadas – relações existentes entre o Anjo da Guarda e seu protegido, conforme são expostas por São Tomás de Aquino na questão 113 da Prima Pars da Suma Teológica; relações estas que resultam de uma profunda afinidade entre ambos seres (o anjo e o homem), promovida por Deus.

Porque São Tomás?

São Tomás vive em pleno século XIII, isto é, uns 800 anos atrás; com razão poder-se-ia perguntar: será ele ainda atual em nossos dias?

A resposta a esta pergunta consiste em considerar a angeologia tomista, não como um tratado fechado, mas como parte de todo um sistema de pensamento – o tomismo, propriamente – de rigososa lógica e admirável coesão, desde os princípios filosóficos mais básicos às mais altas conclusões teológicos, passando pela metafísica, a lógica, a psicologia e a antropologia, para citar as principais. Neste sistema, tudo é coerente, tudo é consequente, tudo é armônico; alguns princípios metafísicos, simples na sua essência, se desdobram incansavelmente até abraçar todo o universo numa sinfonia de armonias que constituem um espelho imperfeito daquela suprema armonia divina que Deus é.

Sao Tomas de Aquino

Foi a extraordinária compreensão que São Tomás teve dos anjos que lhe valeu ser nomeado “Doutor Angélico” pela Igreja.

Embora muita gente tenha escrito sobre os anjos, é lícito crer que ninguém tenha compreendido tão bem como São Tomás a essência da natureza angélica, suas faculdades, seu modo de agir e sua influência sobre os homens, com tanta profundidade de pensamento, tanto rigor de lógica, tanta abarcatividade… e tanta intrínseca beleza. E esta é precisamente a razão pela qual São Tomás, Doutor da Igreja, foi por ela nomeado o “Doutor Angélico”.

Assim, e apesar do fato de São Tomás ter dedicado apenas uma questão da Suma Teológica aos anjos da guarda, a angeologia ocupa um lugar privilegiado no sistema tomista. Por isto, e para podermos apresentar uma noção mais holística do pensamento do Doutor Angélico sobre tema de nosso estudo, sentimos a necessidade de contextualizar a questão 113 com alguns outros elementos da Suma Teológica, especialmente do Tratado dos Anjos (I, q. 50-64) e do Tratado da Providência Divina (I, q. 103-119), e de complementar com outras obras do Aquinate.